sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Quase 40 mil crianças esperam em abrigos a chance de ter uma família

Em uma reportagem emocionante, o 'Bom Dia Brasil' mostra como quem realiza esse gesto faz um enorme bem para a criança e para si mesmo.
Quase 40 mil crianças estão em abrigos à espera de uma decisão da Justiça para saber se voltam para a família ou se vão ser adotadas, o que para muitas delas é a oportunidade de uma vida melhor. É a chance de elas terem.
Há três anos a consultora em turismo Carla de Lima Pujol, o arquiteto Wagner Bruno Olivatto e Laura são uma família. O lar ficou feliz desde que esta princesinha chegou. O casal queria ter filhos, mas Carla não engravidava. “Não fez nenhuma diferença o fato de não ter sido gerada por mim e de ter sido adotada”, afirma a consultora em turismo.
Laura queria poder repetir duas palavras que toda criança aprende cedo: papai e mamãe. “Ela veio com a gente já praticamente chamando de papai e mamãe. Ela era bem caladinha, mas agora fala bastante”, comenta o arquiteto Wagner Bruno Olivatto. “Por que eu sou muito feliz? Porque eu tenho meus pais”, resume Laura.
O tema adoção está na nova novela da Rede Globo, “A vida da gente”. Alice, interpretada por Sthefany Brito, foi adotada por Suzana, personagem de Daniela Escobar.
“Acho que é um gesto divino. Eu, pessoalmente, tenho muita vontade de adotar uma criança. Espero que um dia consiga realizar esse desejo”, revela a atriz Sthefany Brito. “É maravilhoso. Tem muita criança no mundo que merece uma segunda chance”, acrescenta a atriz Daniela Escobar.
Nos abrigos de todo o Brasil, vivem quase 40 mil crianças e adolescentes, mas apenas cinco mil estão aptos para adoção, porque a Justiça já decidiu a situação deles. No Cadastro Nacional de Adoção, há cerca de 28 mil interessados em adotar. O caminho é procurar a Vara da Infância e Juventude da cidade. As famílias serão avaliadas e, se consideradas prontas, aguardam na fila.
“A grande base da adoção é a consciência de que nós podemos fazer uma criança feliz. Vou adotar, porque estou sozinho; vou adotar, porque o casamento vai mal; eu preciso de um filho para salvar meu casamento – isso tudo é tolice, não vejo nenhuma base boa nessas coisas todas”, declarou o desembargador Antonio Carlos Malheiros, coordenador da infância e juventude.
A criança que foi abandonada pelos pais já tem muita dificuldade para lidar com a rejeição. Algumas passam por essa experiência tão ruim: duas vezes são adotadas e, ainda durante o período de adaptação com a nova família, que dura um ano, são devolvidas ao abrigo.
A esperança de viver em uma casa nova durou pouco tempo. “Estava tendo umas brigas lá”, contou uma menina. Depois veio a segunda adoção e, de novo, o abandono. “Eles trabalhavam bastante”, lembra. A história da menina de 10 anos rejeitada por duas famílias não é tão incomum, por mais cruel que pareça. Em dois anos, no abrigo onde ela está, outras cinco crianças foram devolvidas.
“Parece mercadoria e infelizmente é assim. Isso faz com que ela tenha muita dificuldade de criar novos vínculos e até mesmo de acreditar numa próxima família que possa a vir ter interesse nela”, afirma a psicóloga Helena Zgierski.
A criança cresce e a chance de ganhar novos pais diminui. O processo de adoção às vezes é lento, porque algumas famílias fazem muitas exigências. A maioria quer menina, recém-nascida e branca. A maior parte também dá preferência para uma criança só, mas há muitas crianças nos abrigos que têm irmãos.
A saudade é enorme desde que dois irmãos pequenos foram adotados por um italiano, há poucos meses. “Queria poder estar junto deles. Dia 15 mesmo é aniversário do meu irmão e eu não vou poder estar com ele”, disse uma menina.
“Em princípio, essas crianças têm de ficar juntas. No entanto, às vezes há a necessidade de uma parcial separação. Essas crianças irão para duas, três ou quatro famílias, mas essas famílias vão assumir o compromisso de fazerem com que essas crianças estejam sempre juntas”, contou o desembargador Antonio Carlos Malheiros, coordenador da infância e juventude.
Laura se encontra todo mês com os outros dois irmãos, que foram adotados por outras famílias. Agora ela vai ganhar mais uma irmãzinha. “A gente está indo para um segundo processo de adoção”, disse a consultora em turismo Carla de Lima Pujol. “Ela vai ficar com a minha motoca e eu vou ficar com a minha bicicleta”, brinca Laura, num ciúme bobinho de uma criança que está contente com a família que cresce.
Ao todo, 77% das crianças abandonadas, cadastradas pelo Conselho Nacional de Justiça, têm irmãos. Infelizmente, estão aumentando os casos em que a família adota irmãos e depois quer devolver um deles.

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