quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

FILHOS DE ADOÇÃO

Quando o amor vence o tabu

Por Liliane Oraggio Cocchiaro e Carla Leirner



Saber que é adotado pode provocar sentimentos muito distintos: revolta diante da rejeição dos pais biológicos, gratidão e amor pelos pais adotivos. Aqui, filhos da adoção contam como superaram os conflitos familiares e como nem mesmo as maiores dores os impediram de construir trajetórias cheias de conquistas.


Marcos, Alessandra e Cléia
Ao longo da vida, é inevitável adotar naturalmente muitas coisas: uma profissão, um estilo de vida, um amigo, um bicho de estimação, valores éticos e morais. Não deveria ser diferente quando o assunto é adotar uma criança, mas escolher alguém para ser filho do coração --não da barriga-- é ainda um tema marcado pela dúvida e pelo medo. Nos últimos dez anos foram fundados cem grupos de apoio à adoção em todo o Brasil, para desfazer esse bicho-de-sete-cabeças que envolve um processo jurídico de, no mínimo, seis meses e muita emoção. ''O que move esse trabalho é a esperança de erradicar o abandono'', afirma o paulista Paulo Sérgio Santos, secretário da Associação Nacio-nal de Grupos de Apoio à Adoção.

Além desse movimento social, são inúmeras as histórias de adoções bem-sucedidas que se propagam boca a boca. Esses relatos ajudam a diminuir o preconceito e clareiam o caminho de quem decide ter um filho dessa forma. O próprio Paulo é um deles. Foi adotado, ainda bebê, por um casal que já tinha quatro filhos biológicos. ''Desde cedo eles me ensinaram a lidar com o preconceito e demonstraram total aceitação em relação a mim. Isso fez com que eu crescesse com equilíbrio e muito afeto. Lembro que, quando alguém perguntava: 'Esse é o menino que você pegou para criar?', minha mãe respondia: 'Não peguei ninguém para criar, ele é meu filho. Eu adotei.'. Quando tinha 18 anos, a família cresceu e ganhei outros três irmãos adotivos'', lembra Paulo. Hoje, ele se orgulha de ter dez filhos, sete deles por adoção. ''Ninguém precisa seguir meu exemplo, mas vale a pena enfrentar o desafio. O importante é não agir por impulso: a adoção tem de ser planejada e motivada pelo desejo de ter filhos e criá-los com amor. Com essa base todos os problemas que surgirem podem ser superados'', diz ele, que é engenheiro e trabalha em uma metalúrgica no ABC Paulista para sustentar sua numerosa família.

Há conflitos específicos vividos por quem foi adotado. O primeiro é que a criança foi rejeitada pela mãe biológica. Outro ponto delicado é a maneira como se comunica ao filho que a história dele inclui a adoção. Isso pode acontecer de um jeito natural, desde os primeiros anos de vida, ou ser guardado como um segredo, que pode vir à tona sem qualquer cuidado e provocar um choque. ''Aí o problema não é a adoção, mas o filho perceber que foi enganado pelos próprios pais, o que gera muita revolta. Nesse caso, para recuperar a confiança mútua, os pais adotivos devem falar da emoção que sentiram ao receberem a criança nos braços'', diz Renata Pauliv de Souza, psicóloga paranaense. Ela é filha adotiva e realiza um trabalho voluntário, junto com seus pais, na ONG Recriar, de Curitiba, para a preparação de pessoas que optaram pela adoção.

A motivação que leva à adoção também é fundamental para que a relação entre pais e filhos seja saudável. ''Não se deve decidir adotar, e sim decidir ter um filho. Quando o motivo para trazer a criança é tapar um buraco afetivo, como a infertilidade ou o medo da solidão, há grandes chances de que a adoção seja conflituosa. Por isso, antes de adotar, o melhor é fazer o luto das frustrações, para que esse novo integrante da família chegue em terreno positivo'', completa a psicóloga.

O cineasta Kiko Goifman, de 36 anos, detectou uma contradição interessante em seu documentário ''33'', lançado em 2003, em que narra sua busca pela mãe biológica na cidade de Belo Horizonte. ''Nesse trabalho, percebi o quanto a adoção é comum e, ao mesmo tempo, o quanto causa estranhamento. A maioria das pessoas conhece alguém que tem pais adotivos. Porém, quando conto que sou adotado, em geral demonstram pena e até um certo constrangimento, como se ouvissem uma confissão. Acho que o assunto deve ser discutido abertamente, nas famílias e na sociedade. Com o filme, cumpri meu objetivo de diminuir o estranhamento em torno do assunto'', diz o cineasta.

Aqui, quatro filhos adotivos falam sobre seus conflitos e contam como a adoção foi uma experiência integradora, em que o amor venceu os tabus.

Fonte: http://revistamarieclaire.globo.com/Marieclaire/0,6993,EML952933-1740,00.html

2 comentários:

Unknown disse...

Gente

Nem todo filho adotivo foi rejeitado pela mãe.

Eu não rejeitei o meu e ele foi entregue para adoção por membros da minha família há mais de 30 anos, quando ele tinha só quatro dias de nascido.

Definitivamente não lembro o que aconteceu naquele dia, a última lembrança que tenho, eu estava com meu bebê no meu colo na saída da Maternidade da Escola Paulista de Medicina e nada mais. Eu tinha acabado de completar 18 anos e sofri todo tipo de abuso emocional durante a gravidez, além do abandono do pai do meu filho.

Os dias depois disso eu também não recordo muito bem.

Estou procurando meu filho, e quero dizer que eu não quis entregá-lo pra adoção, mas depois de uma gravidez super difícil, de um parto cesareano complicado e de toda tortura psicológica que eu passei, eu talvez nem tenha conseguido ter forças pra fugir correndo com ele em meus braços pelas frias ruas de São Paulo.

Eu quero abraçar meu filho, e também a família que o adotou.

Eu quero pedir perdão ao meu filho, mas também quero agradacer a seus pais.

Meu nome é Marilac Raiol, tenho 50 anos, moro no Rio de Janeiro.

Meus contatos são:
Cel.: (021) 82259149 e o e-mail é: marilacraiol@yahoo.com.br

Por favor me ajudem.
Obrigada.

Unknown disse...

Gente

Nem todo filho adotivo foi rejeitado pela mãe.

Eu não rejeitei o meu e ele foi entregue para adoção por membros da minha família há mais de 30 anos, quando ele tinha só quatro dias de nascido.

Definitivamente não lembro o que aconteceu naquele dia, a última lembrança que tenho, eu estava com meu bebê no meu colo na saída da Maternidade da Escola Paulista de Medicina e nada mais. Eu tinha acabado de completar 18 anos e sofri todo tipo de abuso emocional durante a gravidez, além do abandono do pai do meu filho.

Os dias depois disso eu também não recordo muito bem.

Estou procurando meu filho, e quero dizer que eu não quis entregá-lo pra adoção, mas depois de uma gravidez super difícil, de um parto cesareano complicado e de toda tortura psicológica que eu passei, eu talvez nem tenha conseguido ter forças pra fugir correndo com ele em meus braços pelas frias ruas de São Paulo.

Eu quero abraçar meu filho, e também a família que o adotou.

Eu quero pedir perdão ao meu filho, mas também quero agradacer a seus pais.

Meu nome é Marilac Raiol, tenho 50 anos, moro no Rio de Janeiro.

Meus contatos são:
Cel.: (021) 82259149 e o e-mail é: marilacraiol@yahoo.com.br

Por favor me ajudem.
Obrigada.