segunda-feira, 6 de agosto de 2012

BRASILEIRO DESCOBRIU POR ACASO QUE FOI ADOTADO DE FORMA ILEGAL


BRASILEIRO DESCOBRIU POR ACASO QUE FOI ADOTADO DE FORMA ILEGAL 06/08/2012 Para psicólogos, adoção "torta" pode provocar traumas Mônica Foltran, enviada especial/Israel | monica.foltran@horasc.com.br Em Israel, aos nove anos, Or-Luz conheceu Inbal Adiv na escola de Even Yehuda, a 30 quilômetros de Ramat Gan, onde mora. Estranha coincidência, Inbal é também brasileira, fruto de adoção ilegal. Nascida no Rio, teria sido dada pela mãe. Como Luz, os pais adotivos de Inbal receberam o bebê em um hotel do Rio, em 1986. Inbal, igualmente, cresceu com o desejo de encontrar a família brasileira. Com seu marido, o músico brasileiro Welintom Gabriel, com quem casou há três anos e tem um filho de um ano, divide sua angústias de encontrar a família biológica. Welintom acabou assumindo a missão de localizar a identidade da companheira: – Ela fala tanto nesse sonho que fui ao Brasil à procura da mulher conhecida como principal chefe da quadrilha de tráfico e bebês – conta Welintom. O músico chegou à mulher com quem manteve dois contatos por telefone: – Na primeira, ela disse que não sabia de nada e desligou na minha cara. Na segunda, disse que foram muitas crianças e não tinha como lembrar de todas. Todos os jovens com quem a reportagem do DC manteve contato em Israel, para onde a maioria foi levada, dizem ter sido tratados com amor pelas famílias adotivas e gozaram de uma qualidade de vida que não teriam com as famílias biológicas, desestruturadas e paupérrimas. Mesa farta, educação e carinho não preencheram todos os espaços. Estes jovens querem ter identidade, um rosto próprio. Dos pais adotivos, Inbal escutou sobre como era fácil adotar uma criança no Brasil. "Casais chegavam ao Brasil e voltavam com um bebê no colo", diziam. Preocupada com a felicidade da Inbal, o pai a ajudava na busca, uma apuração que se encerrou com a morte dele. Desde então, a jovem conta com amigos e o próprio marido. – Sei apenas que ela era muito nova e trabalhava como doméstica. ADOÇÃO "TORTA" PROVOCA TRAUMAS, DIZEM PSICÓLOGOS Para psicólogos que lidam com adoções, traumas refletem consequências de uma adoção considerada "torta" – fora dos cuidados. Mentiras e a forma errada como contaram aos filhos geraram dores. O gaúcho Ron Yehezkel descobriu por acaso que havia sido adotado. Foi aos 15 anos, quando precisou fazer o documento de identidade. – A revelação foi como uma bomba. Meu passado, de repente, se tornou obscuro – recorda. Ron passou a se sentir "estranho e sozinho". Angustiado, procurou os pais adotivos para descobrir mais, mas obteve apenas a confirmação da adoção. Não querem tocar no assunto. Ron iniciou, então, sua busca há 11 anos. Na cidade onde nasceu, Pelotas, descobriu apenas um jovem que pode ser seu irmão, mas nunca conseguiu estabelecer contato. – É horrível a criança descobrir que foi adotada e, pior ainda, descobrir que mentiram para ela sobre suas raízes – observa a psicóloga Denise de Araújo Vosnika, de Curitiba, que lida com o tema. O olhar e o tom de voz tristes revelam as incertezas que marcam a vida de Yael Stein. Bonita, "mas infeliz", como se audefine, aos 24 anos lembra como sua vida foi marcada por "tristeza e raiva". A revolta por ter sido entregue em condições ilegais resultou em inseguranças. – O sonho é conhecer minha verdadeira família. Seus documentos, com duas datas de nascimento, são um atestado dessa confusão. Certidão e caderneta de saúde têm datas diferentes: 1º de fevereiro e 13 de março de 1988. A origem também é polêmica. Ela acredita ter nascido em Joinville, mas a certidão aponta Campo Largo, no Paraná. Ela reconhece que tem uma boa vida em Israel, mas isso não supera a dor do passado desconhecido. – Não gosto de Israel. Quero morar no Brasil, porque acho ser o melhor lugar do mundo – diz Yael. Shiri Shinfouks vive uma confusão semelhante. Adotada com 12 dias de vida, tem documentos de Curitiba, mas a carteira de saúde aponta o nascimento na Maternidade Darcy Vargas, em Joinville. Da mãe adotiva, ouviu que teria sido entregue numa casa "próxima a Joinville". Shiri, a dona do pezinho carimbado na caderneta de saúde acima, foi adotada em outubro de 1984 por um casal israelense tão decidido que permaneceu três meses negociando no Brasil, até retornar com a menina. Em Curitiba, teriam ficado sabendo "das facilidades" para adotar crianças e, por indicação, se hospedaram em um conhecido hotel daquela capital, que a Polícia Federal identificou, na época, como um ponto de atração do trafico de bebês. Hoje Shiri ouve da mãe adotiva que ela se parece muito com a mãe biológica. E por isso vive na frente do espelho, olhando suas feições e se perguntando: – Por que estou aqui. Por que ela me entregou – questiona a jovem de pele clara e traços europeus. Em seus documentos constam o nome de Luciana Mara de Araújo como mãe. No lugar reservado ao nome do pai, o termo "ignorado". http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default.jsp?uf=2&local=18§i

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