quarta-feira, 24 de julho de 2013

Pesquisador francês discute a adoção por casais homoparentais no IP


Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Diante da transformação do conceito de família no Brasil e no mundo, duas grandes questões ganham destaque tanto no universo da psicologia quanto na sociedade: como se dará a adaptação de crianças adotadas por famílias separadas, indivíduos solteiros ou casais homoafetivos? Esses fatores podem influenciar de algum modo no desenvolvimento da criança?
Para debater as novas perspectivas da psicologia clínica neste contexto, o Instituto de Psicologia (IP) da USP recebeu na sexta-feira, 12 de julho, o professor francês Fabian Dario Fajnwaks, da Universidade Paris 8. Além do docente, estava presente também a professora Ivonise Motta, responsável pelo encontro e coordenadora do Laboratório de Criatividade e Desenvolvimento Psíquico do IP.

A questão do abandono

Segundo os especialistas, a questão do abandono pode ser percebida tanto na criança quanto nos candidatos a adoção. Cada um reflete esse sentimento de um jeito. A criança que já passou por várias situações de abandono poderá se tornar ríspida, agressiva, rancorosa e amarga. “Ela desenvolve esses sentimentos como forma de se proteger”, esclarece a professora Ivonise.
Para os pais, o efeito pode ser o oposto. Um indivíduo que já tenha passado por situações de abandono ou ruptura no vínculo de formação de família – por exemplo, a impossibilidade de gerar um filho – pode querer tentar suprir essa deficiência ao adotar uma outra criança.
Ivonise Motta | Foto: Marcos Santos/USP Imagens
De acordo com o professor Fabian é comum os candidatos a maternidade ou a paternidade construírem discursos românticos sobre a adoção. O fato reflete uma imagem de pai ou mãe ideal que foi elaborada por esse casal. Contudo, não existe um manual de como se exercer a maternidade, não há pais ou mães perfeitas e quando o candidato a adoção se dá conta disso, muitas vezes desenvolve o sentimento de frustração e angústia.
“Eles devem trabalhar com esse sentimento de frustração e entender que em algum momento ele ou ela poderão falhar, mas que isso não o faz um péssimo pai. Os pais também devem saber trabalhar com o anseio, medo e desamparo emocional”, reforça Ivonise.

Adoção por casais homoafetivos

Embora a adoção por casais homoafetivos seja um direito constitucional, ainda há muito preconceito por parte de alguns indivíduos que atuam nos órgãos públicos responsáveis por esse processo jurídico, assim como na sociedade de forma geral.
Para Fajnwaks, o importante é mostrar quais os benefícios que a adoção pode gerar para a criança  e como isso pode contribuir no seu desenvolvimento. “Tendo isso esclarecido, a questão da homoafetividade ou da heteroafetividade não interfere”, pontua o especialista ao refutar o argumento de que a adoção por casais homossexuais possa interferir no formação sexual da criança, pois, ainda que a criança não possua a figura feminina em casa, ela com certeza irá conviver com essa figura na escola, na rua e até mesmo no âmbito familiar expandido.
“A questão da homoafetividade ou da heteroafetividade não interfere”, afirma o professor Fabian Fajnwaks
Na opinião do professor, psicanalistas que se opõem a adoção por casais homoparentais fazem isso em nome de uma idealização edípica, ou seja, com base no conceito do “Complexo de Édipo” criado por Sigmund Freud. No entanto, os lacanianos – corrente teórica que segue a linha do psicanalista francês Jacques-Marie Émile Lacan - acreditam que não podemos nos opor as demandas de um casal em nome de uma ideologia ou normalidade edípica, pois a experiência clínica já nos mostrou que o conceito de Édipo não funciona como norma para todos os sujeitos.

Processo de adoção

Atualmente, os candidatos que almejam adotar uma criança passam por um acompanhamento psicológico, assim como a criança, antes e depois da adoção. Tal acompanhamento se faz necessário porque é importante analisar como está se dando o período de adaptação familiar.
Segundo a professora Ivonise, as famílias passam por uma avaliação psicológica e psicossocial para receber as crianças. Após esse processo as famílias realizam  visitas esporádicas às crianças, o que consequentemente pode levar a formalização de uma adoção bem sucedida.
Mais informações: email ivonise@usp.br, com a professora Ivonise Fernandes da Motta
 

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