quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

AMOR SEM PALAVRAS


Publicada em: 03/01/2014
Texto Laura Siqueira Fotos Sueli Zischler

No dicionário família ganha a definição de “pessoas do mesmo sangue ou não, ligadas entre si por casamento, filiação, ou mesmo adoção, que vivem ou não em comum”. Para o empresário Robert Paul Krajevski e o dentista Rogério Luiz Schimidt o significado vai muito além. Desde que a pequena Vitória Krajevski Schimidt, de dois anos, entrou na vida deles, se tornou impossível transformar em palavras o real significado de família.

MOMENTO INESQUECÍVEL – VOCÊ E O ROGÉRIO SEMPRE TIVERAM A IDEIA DE ADOTAR UMA CRIANÇA?
Robert - Estamos juntos há 18 anos e eu sempre tive vontade de adotar. Conversei com o Rogério, mas ele não tinha a mesma vontade na época, então respeitei o tempo dele e depois de alguns anos ele falou que também queria. Aí nós decidimos juntos e fomos atrás do processo de adoção.

COMO FOI ESSE PROCESSO E QUAIS AS MAIORES DIFICULDADES?
Foi muito demorado, quase seis anos no total. Os primeiros passos foram muito bons, o curso de adoção e as entrevistas com assistente social e psicóloga. Sentimos apoio e que elas gostaram muito de nós. Na visita à nossa casa deu tudo certo, o laudo delas foi superfavorável e a primeira resposta da juíza da 2ª Vara da Infância e Juventude foi linda, com muitas laudas em nossa defesa e a decisão favorável. Mas aí veio o Ministério Público e entrou com recurso defendendo que poderíamos adotar desde que fosse uma criança acima de 12 anos e que ela poderia optar se queria ou não ser adotada por dois pais. Nós recorremos até conseguirmos a nossa aptidão para a adoção no STJ, em Brasília, pois acreditamos que se a criança cresce dentro de um ambiente saudável não cria certos pré-conceitos, para ela será tudo natural. Depois da decisão fomos chamados pela juíza da 1ª Vara da Infância e Juventude, pois queria nos conhecer e avisou que estávamos na vez. A partir daí se passaram mais ou menos seis meses e achávamos que não iriam mais nos deixar adotar, sentimos que iriamos ser deixados de lado. Até que em 12 de dezembro de 2012 nos ligaram dizendo que nossa filha havia chegado, aí veio o susto cheio de alegrias. Três dias depois a levamos para casa e a adaptação foi total e muito rápida.

COMO VOCÊS CHEGARAM ATÉ A FILHA DE VOCÊS?
A Dra. Lídia, da 1ª Vara, fez a indicação da Vitória para nós. Ela provavelmente sentiu que era a nossa filha e não poderia ter sido outra criança. Valeu cada noite sem dormir, cada recurso e cada ano esperado.

QUAL O SENTIMENTO DE PODER CHAMAR UMA CRIANÇA DE FILHO E SER CHAMADO DE PAI?
É indescritível sentir o abraço, poder proteger, ter em nossos braços essa linda menina. É pura emoção e realização abrir a porta de casa e ouvir lá do quarto ‘Papai chegou’ e ela vir correndo para te receber. Nos amamos muito, somos uma família completa agora.

VOCÊS FORAM O PRIMEIRO CASAL HOMOAFETIVO DO PARANÁ A CONSEGUIR A ADOÇÃO. VOCÊS ACREDITAM QUE ABRIRAM UM PRECEDENTE, QUE FIZERAM HISTÓRIA?
Somos os primeiros a conseguirem pela comarca do Paraná a ter nossos nomes, dos dois pais, na certidão. Acreditamos sim que abrimos precedente para os próximos casais, que já não precisam esperar tanto. O tempo agora é igual para todos e sabemos de outros casais que já estão habilitados com o tempo regular. Foi uma vitória para todos. Estamos fazendo nossa história e, claro, incentivando outras histórias também.

COMO FOI A REAÇÃO DE FAMÍLIA E AMIGOS QUANDO SOUBERAM DA DECISÃO DE VOCÊS?
Nossas famílias sempre nos deram apoio e acreditaram que nós poderíamos formar uma família com filhos. Os amigos então, nem se fala, sempre estiveram do nosso lado, preocupados com a demora do processo e os recursos. Eles comemoraram junto a nós cada vitória e também cada tristeza quando sabíamos que o Ministério havia impetrado novo recurso. Não sentimos nenhuma rejeição ou pelo menos nunca chegou ao nosso conhecimento.

COMO VOCÊ ACREDITA QUE SUA FILHA COMPREENDE ESSA SITUAÇÃO DE TER DOIS PAIS?
A relação entre nós é natural, ela conta sempre com a gente, chega da escola cheia de novidades. Dividimos todas as tarefas e responsabilidades, e ela sabe que com qualquer um de nós está segura. Vamos crescendo juntos e descobrindo a cada dia como lidar com as situações. Ela nos chama de papai e de papaizinho, criando ela mesma um diferencial para se comunicar.

PARA OS CRÍTICOS QUE NÃO APROVAM A ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS, O QUE VOCÊ PODE DIZER DEPOIS DE JÁ TER ESSA VIVÊNCIA EM FAMÍLIA?
Na nossa ou em outra família com filhos não há diferenças, tendo respeito, responsabilidade em educar com amor, dedicação e, principalmente, disponibilidade para seus filhos não tem como dar errado. A criança não tem esse pré-conceito dentro dela e, portanto, não rejeita o amor e carinho que recebe. E que, acreditem, independentemente de sexo, cor ou religião todos somos capazes de nos sentirmos realizados e formar uma família de sucesso no sentido pleno da palavra.
http://www.portalinesquecivel.com.br/homoafetivo/dicas-e-inspiracoes/adocao-amor-sem-palavras/

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