domingo, 23 de março de 2014

ADOÇÃO: UM ATO DE AMOR IRREVERSÍVEL


03/2014
Teresina possui seis abrigos que acolhem hoje cerca de 180 crianças e adolescentes
Créditos: Gabriel Tôrres/CT
Autor: Claryanna Alves
Adriana Alves tem 37 anos de idade é diagnosticada com hidrocefalia, possui limitações na coordenação motora e é filha biológica de uma quebradeira de coco de Miguel Alves, interior do Piauí, que alegou não ter condições de criar uma criança. Adriana foi adotada ainda com um mês e quinze dias por uma nova família. Qual o seria o destino dessa criança se ela não tivesse encontrado pessoas que pudessem lhe dar amor e melhores cuidados? Talvez ela acabaria em um abrigo, onde comumente crianças são entregues em caso de abandono, por questões familiares ou mesmo quando os pais decidem pela não criação.
Teresina possui seis abrigos que recebem hoje cerca de 180 crianças e adolescentes, sendo 59% do sexo feminino e 41% do sexo masculino. Essas crianças e adolescente geralmente chegam aos abrigos em condições de vulnerabilidade social ou violação de seus direitos, aonde os pais, por exemplo, estão desempregados, envolvidos com drogas, alcoolismo, violência doméstica ou sexual, meios de convivências que o Juizado de Menores considera inapropriados para a criação de uma criança.
Mesmo vivendo em abrigos, a prioridade dessas crianças é o reenquadramento em sua família de origem. Quando as possibilidades se esgotam e elas alcançam a maioridade, os psicólogos dos abrigos fazem o trabalho de tentar mostrar a esses jovens que não foi possível a sua reinserção na família e também que não conseguiram uma família substituta. “As instituições que recebem jovens de 12 a 18 anos já tentam inseri-los em trabalhos profissionalizantes porque já deixam de ser criança e entram na fase de adolescência, fazem cursos, esportes e, caso não consigam uma família até os 18 anos, eles mesmo podem se sustentar”, comenta Lísia Gomes, psicóloga do Lar da Criança Maria João de Deus.
No Lar, assim como nos demais, há a possibilidade das crianças receberem visitas de suas famílias. Essas visitas são acompanhadas pelas psicólogas e assistentes sociais do abrigo para saber como é a relação entre eles.
A ADOÇÃO
Para ser adotada a criança ou adolescente deve ter, no máximo, 18 anos frente a data do pedido de adoção, independentemente da situação jurídica. Caso já possua a maioridade, pode ser adotada se estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes. Para adotar, a pessoa pode ser casada, solteira, viúva ou viver em união estável. A adoção por casais homoafetivos ainda não está estabelecida em lei, mas existem casos de alguns juízes que já deram decisões favoráveis.
De acordo com os últimos dados disponibilizados pleo Centro de Reintegração Familiar e Incentivo a Adoção (CRIA), até outubro de 2012 haviam 24 pessoas habilitadas para a adoção no Piauí, sendo quatro do interior do Estado e vinte de Teresina. Desses vinte, quinze casados, quatro mulheres solteiras e um casal homoafetivo.
Atualmente, no CRIA, existe um casal homoafetivo de mulheres habilitado para a adoção e outros que estão participando de programas como o Família Acolhedora e em processo de habilitação. “Acho que é uma nova família que surge para tirar essas crianças do abrigo porque, infelizmente, os casais que estão na fila de adoção geralmente possuem um perfil determinando o esteriótipo crianças desejam. A maioria procura por menina de até dois anos de idade e branca. E os casais homoafetivos vêm sem essa determinação de como deve ser a criança. Então, o leque de oportunidade da criança é maior. Eles vêm para preencher essa lacuna que está aberta aí para as crianças serem inseridas em uma família novamente”, comenta a psicóloga Lísia Gomes.
A menina branca de zero a dois anos é o perfil nacional preferido da criança procurada para adoção, só que essas características não correspondem à realidade daquelas crianças que vivem nos abrigos. “Nós incentivamos a adoção através de campanhas e exposição fotográfica. Orientamos também às pessoas que nos procuram que, quanto mais elas limitam o perfil da criança, mais difícil será a adoção. Tentamos sensibilizar para as crianças reais e que estão precisando de uma família. Realizamos reuniões com essas pessoas que pretendem adotar, tentando sensibilizá-los e mudar um pouco os seus perfis da criança”, explica Taciana Bastos, assistente social do Cria.
A adoção é um ato de amor e é irreversível. E programas desenvolvidos pelo Cria ajudam a criança a ter um primeiro contato e uma fase de adaptação com a família, além de possibilitar à criança a convivência com um ambiente familiar. “O processo de adoção pode demorar um pouco por causa da burocracia. Então, para que a criança possa sair do abrigo existe uma audiência, tem que ter um estudo social. A equipe do Juizado da Infância e da Juventude é muito pequena e são muitas crianças institucionalizadas, o que acaba prolongando um pouco o processo e elas vão crescendo. Aquelas que não têm possibilidade de retornar à família, às vezes, acabam saindo do perfil preferencial de adoção. O Família Acolhedora é uma alternativa para essas crianças, para que, ao invés delas ficarem em um abrigo enquanto se resolve sua situação, elas possam estar em uma família”, explica Taciana Bastos.
Regina Lúcia de Moura é casada e já tem dois filhos adultos, um de 24 e outro de 20 anos. No ano de 2010 ela resolveu participar do programa Família Acolhedora e foi lá que ela conheceu a pequena Maria. “Eu fiz meu cadastro no Cria e esperei uns três meses. Achei que eles tinham me esquecido, mas aí me chamaram. Não pedi cor nem nada. Só uma menina de 2 a 4 anos. Quando eu bati o olho na Maria vi que era pra ser ela mesma e já estou com ela há um ano e meio. Todos da minha família receberam a Maria muito bem. Hoje ela estuda e já sabe o alfabeto, escreve bem e o desenho dela é bem feito. Ela é a nossa alegria”, lembra Regina Lúcia.
ADOÇÃO CONSENSUAL
A adoção consensual ou intuito personae acontece quando os pais biológicos resolvem “entregar” o seu filho para alguém ao invés de entregá-lo à Vara de Infância e da Juventude. Foi assim que o casal Rute e Emérito Alves acolheram Adriana. “Ficamos sabendo da Adriana quando uma vizinha disse que uma mulher, quebradeira de coco, do município de Miguel Alves teve uma criança e não tinha condições de criá-la. A Adriana tinha um mês e quinze dias, hoje ela está com 37 anos. Ela é registrada no nome da mãe biológica, hoje sou tutor dela”, lembra Emérito.
Adriana sempre foi um bebê muito frágil e, ainda criança, foi diagnosticada com hidrocefalia e sofreu uma paralisia cerebral, o que a deixou impossibilitada de falar. Mesmo tendo passado por essas dificuldades, o casal diz que Adriana é uma benção na família. “Ela nunca falou, mas entende tudo! Aqui em casa todo mundo sempre ajudou a criar a Adriana, até os nossos filhos. Ela é querida demais por todo mundo. O que a gente pode fazer por ela, fazemos. Ela sempre recebe visitas e gosta de ficar ouvindo rádio. Então, o pessoal da rádio veio aqui e deu um radinho pra ela de presente”, diz Emérito emocionado.
Taciana Bastos Foto: Gabriel Tôrres/CT
Foto: Gabriel Tôrres/CT
Lísia Gomes Foto: Gabriel Tôrres/CT
Regina Lúcia Foto: Gabriel Tôrres/CT
http://www.capitalteresina.com.br/noticias/geral/adocao-um-ato-de-amor-irreversivel-6330.html

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