quarta-feira, 9 de abril de 2014

ANTES DE VOCÊ CHEGAR!


07.04.2014
Da gestação e parto afetivo na Adoção Tardia.
Olá pessoal!
Gostaria de conversar um pouquinho sobre a gestação e o parto na adoção tardia!
Começando pelo começo temos de analisar que toda mulher que pare gestou aquele bebê por 9 meses, aproximadamente. Este tempo, além de biologicamente necessário, também o é afetivamente.
Entre o sonhado “positivo” e a realidade de um bebê que chora sabe-se lá porquê há nove meses de espera e preparação diuturna.
Nossa sociedade cria seus filhos para saberem que não será fácil, que será uma barra braba, mas que mãe que é mãe, pai que é pai, aguenta firme e toca o barco pois uma hora as coisas se ajeitam e tudo fica mais fácil, pois nos adaptaremos inevitavelmente as dificuldades e desafios da maternidade.
Agora, quando falamos de adoção, o perfil mais desejado não é por acaso do criança até 2 anos, saudável e sem irmãos. Receber em adoção uma criança assim é praticamente equiparável à gestar e parir um filho biológico.
Primeiro porque a espera levará inevitavelmente anos!! Anos longos, de uma gestação afetiva dolorida, sofrida, expectante. Longa de anos entre o “positivo” da habilitação até a chegada deste bebê.
Importante saber que bebês quando abrigados de regra não o são para serem encaminhados imediatamente para adoção, pois a lei manda que se tente SEMPRE, tenha a criança a idade que tiver, mantê-la na sua família de origem.
Assim, pode levar alguns meses para que se confirme que não há chances da criança voltar para a família biológica. Isso por lei não deverá ultrapassar a dois anos de abrigamento, mas….
Bom, voltando ao nosso tema central!!
Se após 7, 8 ou 9 anos de espera por um bebezinho ele chegar aos braços dos adotantes, eles estarão preparados, pela sua criação e pelo sofrimento da demora, para serem excelentes pais para um BEBÊ.
Isso pq não haverá grandes diferenças entre parir ou adotar uma criança tão pequenina. Somos criados para saber fazer isso e segurar as barras da criação desses pequenos!
Mas e quando falamos de adoção tardia?? Quando falamos de adoção de uma criança de 5 anos ou mais, não raro em grupos de irmãos?
Aqui a conversa muda muito de figura, pois não somos criados para “tolerar” uma criança que fala, faz malcriações, faz birras homéricas, “rouba” coisas dos coleguinhas de escola, que aos 8 ou 9 anos não sabe ler ou escrever o próprio nome.
Socialmente somos criados para não tolerar tais faltas nos “filhos alheios” pois isso que nos indignamos quando estamos nos corredores de um shopping e vemos um moleque malcriando em praça pública! Logo pensamos: esta mãe não sabe criar o filho… este guri merece uns bons tapas para aprender a se comportar… que coisa feia, um menino deste tamanho dando este show… e por ai vai.
Levante a mão aquele que jamais pensou algo parecido numa situação similar!!!!!
Então!! Imagina se este guri chegasse para ser SEU FILHO?? Então, né?? A coisa ficaria bem complicada!!
Ficaria complicada pois somos criados para “botar reparo” nos filhos dos outros, para criticar a criação e a educação dos filhos alheios e achar feio o que não é espelho.
Ai chegamos na Adoção Tardia!
As crianças que adotamos em adoções tardias não são crianças que foram criadas com primor, por pais amorosos, cuidadosos e respeitosos. Foram tirados de suas famílias biológicas exatamente por elas carecerem de tudo isso no seu mínimo básico. São crianças que foram descuidadas, abandonadas, não raro severamente abusadas física e emocionalmente por aqueles que as deveriam amar, amar e cuidar.
São elas filhas do abandono e do desamor.
Ai o Judiciário tira estas crianças de suas famílias de origem e as abriga. Dependendo da idade, um abrigamento que se prolonga por anos a fio…
Estar num abrigo é como estar vivendo num quartel onde somos números e tudo é compartilhado e ninguém é visto como um indivíduo. Se antes havia mais tratos, agora eles são de outro tipo: não há família, não há individualidade.
E assim os anos passam para estas crianças…
E os adotantes?
Aqueles que querem fazer uma adoção tardia devem saber que estas são as crianças reais para adoção tardia e sua adaptação à nova família e realidade não será fácil pois elas não tem qualquer experiência em famílias ditas “normais”, logo não têm a mínima ideia de como ser um filho “normal”.
Se os adotantes foram preparados apenas para tolerarem as agruras de filhos bebês e para serem intolerantes com a falta de educação e bom comportamento de crianças mais velhas, fazer uma adoção tardia faz necessária uma prévia preparação.
Se ela não houver, se os adotantes não se prepararem para saber o que esperar, porquê esperar, como entender e como agir poderá ser muito difícil e as vezes trágica a tentativa de uma adoção tardia.
Há adotantes que acreditam piamente que a criança que chega em adoção tardia lhes será eternamente grata e fará de tudo para ficar ali e não ser devolvida. Há adotantes que acreditam que será mais fácil do que se fosse um bebê com suas fraldas infinitas e choros noturnos!! Há adotantes que pensam que estão dando uma chance para um “enjeitado” pois tem tempo e dinheiro para criar um “órfão”. Há zilhões de razões erradas para se fazer uma adoção tardia.
O único e exclusivo motivo para se fazer uma adoção tardia é QUERER UM FILHO e ponto final.
Uma criança com mais de 3 anos inevitavelmente necessitará de tempo para aprender a ser o filho que os adotantes teriam criado que a houvesse parido. Os adotantes, que não foram pela sociedade preparados para receber e tolerar uma criança malcriada (no verdadeiro e mais cruel sentido da palavra) nas suas proximidades e menos ainda em sua própria casa, ficam completamente desconcertados e sem ação nos primeiros momento de uma adoção tardia.
Principalmente por que a criança, durante os não raro pouquíssimos encontros anteriores à guarda provisória, se demonstrou um anjo de candura e educação, e agora de mostra o mais terrível dos monstrinhos.
É ai que a dura realidade se instala e os adotantes ficam completamente perdidos…
O sonho em confronto com a realidade é destruído e a vontade de desistir de tudo não é um sentimento raro para os novos pais.
Assim, é importante que os adotantes somente mudem seu perfil para adoção tardia (3 ou mais anos) se esta for uma alteração que se iniciou dentro de seus corações e razão, após um necessário período de reflexão e estudo sobre como será este filho que chegou tarde à sua verdadeira família.
Para isso é indispensável que os adotantes participem de grupos de apoio à adoção antes, durante e após uma adoção tardia e sempre peçam ajuda para o período de adaptação.
Decidido fazer uma adoção tardia, por caber no coração dos adotantes uma criança que não possa passar por uma filha parida, devem ele estar preparados, economicamente, inclusive, para arcar com o estágio de aproximação que deve obrigatoriamente anteceder a guarda provisória.
Para que esta adoção seja o mais tranquila possível desde o início é necessário que os adotantes segurem sua ansiedade e resistam à vontade de trazer a criança o mais rapidamente possível para casa.
A criança precisa de tempo para conhecer os adotantes e eles devem compreender que quando pedem para ir com eles para casa elas não sabem exatamente o que representa ir para uma nova família. Elas apenas querem ter a chance de ter um pai e uma mãe, mas não sabem nem compreendem exatamente o que isso representa para a vidinha delas.
Os adotantes também precisam de tempo para se prepararem afetivamente e à seu lar para receber este novo membro estranho e não raro incompreendido.
Assim, é imprescindível que se concorde e mesmo exija uma aproximação cuidadosa, começando com visitas ao abrigo, evoluindo para saídas aos fins de semana, pernoites aos fins de semana, feriados no futuro lar e finalmente, de preferência durante as férias de meio ou final de ano, a concessão da guarda provisória.
O filho que chegará não saberá se comportar, usará termos chulos, será malcriado, mentirá muito, mal saberá ler e escrever, tratará os adultos não familiares com uma intimidade desconcertante, causará problemas na escola (brigas com os coleguinhas, roubo de material escolar alheio, desobediência dos professores etc).
Os novos pais já devem estar preparados para estes comportamentos, compreendendo suas causas, a brevidade de sua duração e como lidar com eles sem maiores estresses.
Eles perceberão o quando o fato de compreenderem o que esperar e como agir facilitará a mútua adaptação!
Os novos pais em adaptação precisam de apoio e acompanhamento. De preferência por um profissional da psicologia em suas próprias cidades. Este psicólogo deverá acompanhar pais e filhos durante no mínimo seis meses, sendo o ideal pelo menos um ano.
Os grupos de apoio podem ser de grande ajuda, pois é um momento onde os adotantes terão contato com outros pais que passam ou já passaram pelas mesmas ou similares experiências. Assim, nada de sumir dos grupos de apoio, mesmo que virtuais, quando as crianças chegam!! Esta é a hora em que eles são até mais importantes.
É nos grupos de apoio que se descobre que grande parte do que se passa é normal até para crianças paridas e que a pequena parte que não é de praxe para qualquer criança pode ser trabalhada sem maiores estresses e que com o tempo melhorarão e tudo será mais tranquilo e feliz.
Adoção tardia é para poucos?? Não!! Adoção tardia é PARA TODOS!! Para todos que sejam capazes de compreender que o tempo, amor e respeito é o que toda e qualquer criança e adolescente necessita para ser um filho feliz.
Beijos afetivos e até a próxima!
Rosana Silva.

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