quarta-feira, 9 de abril de 2014

- E SE MORRER?


Por Vivian Fiorio
Curitiba, PR
Essa foi a pergunta que ouvi de uma conhecida quando comentei que nosso perfil aceitava crianças soropositivas. E até hoje eu lembro dessa frase quando ganho um abraço, um "eu te amo", quando minha filha chega de mansinho e me dá um susto daqueles, quando ela monta um castelinho de lego, quando volta feliz da aula de ballet.
O HIV+ é um tabu em nossa sociedade, mesmo hoje, 30 anos depois. Continuamos ouvindo comentários desse tipo mesmo depois da chegada da nossa filha, bem como relatos sobre pessoas que morreram de AIDS, de inseguranças quanto ao que ela poderia ou não fazer, de uma vida de impossibilidades - "mas e quanto à vida sexual dela?", "Ah você é muito corajosa, eu não daria conta", "eu gostaria, mas não tenho tempo para tantos remédios e médicos", "eu não tenho preconceito, mas minha família tem", etc. Bem, vamos lá:
- Sim, muitas pessoas morreram de AIDS. E também de tuberculose, de pneumonia, de câncer, de acidentes, de gripe até. E muita gente morreu de velhice também.
- Quanto ao sexo? A vida sexual da minha filha é dela e não minha. Ninguém vira mãe pensando na vida sexual do filho, certo? E ela terá que usar camisinha sim, como todo mundo.
- Sim, ela toma remédios. São 3 de 12 em 12 horas. E quando está com tosse toma xarope. Quando está com gripe toma antigripal. O "grande" trabalho que isso me dá é o de ter um relógio para saber a hora das doses.
- Tempo? Nós trabalhamos o dia inteiro e cuidamos da casa. E de 4 cães e 2 gatos. E de mais um filho. E isso não nos impede de levá-la ao médico a cada 3 meses.
- Uma vida de impossibilidades? Minha filha come, dorme, brinca, ri, chora, apronta, cai, levanta, estuda, desenha, pula, dança.
- Preconceitos não podem engessar uma vida inteira. Preconceito se cura com informação. E se não curar, é porque a pessoa não quer ser curada, então você decide se quer expor sua vida aos conceitos dela ou não. Mas quando o filho é seu, o seu mundo é esse, doa a quem doer.
- Por fim, não somos corajosas, somos mães. E respondendo àquela perguntinha lá em cima: "E se morrer?" Bem... E se você morrer?
Milhares de crianças soropositivas estão "fora da fila" do CNA por que ninguém as quer, enquanto milhares de adotantes buscam filhos que não morrem.

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