quarta-feira, 21 de outubro de 2015

FAMÍLIAS EUROPEIAS. O AMOR SEM PRECONCEITOS CHEGA PARA TODOS (reprodução)

19/10/2015
Manuel Vicente Catarina Correia Rocha
Isabella é a mais velha das três filhas de Liz Corder. Vivem em Brighton, uma das cidades mais gay friendly da Europa.
Fazer parte de uma família arco-íris não quer necessariamente dizer que se tenha de lidar diariamente com o preconceito. Há exemplos de sucesso na Europa e histórias de amor de fazer inveja a qualquer um.
Lisa Green nasceu nos Estados Unidos, mas foi na Alemanha que a sua vida mudou. Na universidade frequentava o curso de alemão e quando a possibilidade de fazer um ano de intercâmbio na Europa se colocou nem sequer pensou duas vezes: “Foi nesse ano que conheci a outra mãe dos meus filhos. No final desse tempo eu assumi ao mundo que era lésbica e nós ficámos juntas.” .
Atualmente, estão juntas há 25 anos e o preconceito já não faz parte das suas vidas. “Quando me mudei tínhamos de lidar com isso, mas desde essa altura muita coisa mudou. Tudo ficou melhor”, explica Lisa. As leis aprovadas na Alemanha no sentido de reconhecer direitos de casamento e adoção a casais gay facilitaram a vida a Lisa e Monika: “Houve legislação no sentido de reconhecer os nossos direitos e foi aí que pude adotar a minha filha, a única que não dei a luz.” O casal tem três filhos: Lena tem 19 anos e foi adotada aos dez. Os biológicos são dois: Dylan, de 15 anos e Mia, de 13. Mas, na verdade, Lena sempre olhou para Lisa como sua mãe, independentemente do que diziam as pessoas ou as leis: “É difícil explicar a uma criança que a pessoa que desde sempre foi mãe dela só a pôde adotar tão tarde. Mas ela sempre soube o que sentia, só é difícil explicar a uma criança pequena que, legalmente, não somos família”. E Lena é clara: “Lisa é a mãe desde que nasci. Não há diferença absolutamente nenhuma.”.
Liz Corder é inglesa e vive em Brighton, uma das cidades em que os homossexuais são mais bem acolhidos. É mãe solteira e tem três filhos: Isabella, com 9 anos e as gémeas com 5 anos. “Vivo numa cidade extraordinariamente aberta aos gays e escolhi constituir lá a minha família por essa razão”, conta ao i. Viver numa cidade em que não há preconceitos ou em que os homossexuais não são olhados de lado permitiu a Liz tornar o seu sonho realidade: “Eu sou uma mãe lésbica, mas dei à luz as minhas três filhas. Recorri a um dador e foram concebidas através de inseminação.”.
Apesar de Brighton ser um dos centros gays da Europa, Liz pensa que a sua condição de mãe solteira com três filhas a faz passar um pouco despercebida. “Sou uma mãe que tem filhas. É completamente normal”, refere, acrescentando que, mesmo assim, “é abertamente gay” e tem uma vida óptima.
Na Alemanha, as famílias homossexuais têm os mesmos direitos que as hetero. “Num nível social, até penso que somos interessantes para os outros”, considera Lisa. Já Lena, a sua filha mais velha, tem outra visão: “Somos interessantes nos primeiros cinco minutos. Depois tornamo-nos chatas quando as pessoas percebem que o nosso estilo de vida é tão normal como o de outras famílias”, justifica. A jovem já foi alvo de algumas perguntas por parte dos colegas da escola, mas nunca sentiu que o fizessem por “maldade ou preconceito”. É a curiosidade quem leva a melhor: “Questionam muitas vezes: ‘Qual delas faz o papel da mãe e qual delas é o pai? ’ Eu respondo sempre com duas perguntas: ‘O que é uma mãe para ti? O que é um pai típico? ’” Costuma dizer-se que as crianças podem ser cruéis, mas, para este chavão, Lena também já tem uma resposta na ponta da língua: “As crianças podem ser más sobre qualquer coisa, até sobre uns sapatos feios que calçaste nesse dia.” .
Já a mãe Lisa tem de lidar com a curiosidade dos outros quando perguntam quem é que deu à luz os bebés. “Presumem que há uma relação diferente com a mãe social e com a mãe biológica. Eu tenho dois filhos biológicos e uma adotada e consigo ter a certeza que não há diferença nenhuma.” A questão coloca--se sempre porque quem não faz parte de uma família arco-íris assume sempre que a relação com a mãe biológica é mais forte. “Mas do meu ponto de vista não há qualquer distinção”, reitera.
No dia em que foi oficialmente adotada, Lena – que tem como lema para a vida “temos de ter confiança em nós próprios” – lembra-se que não foi à escola. A mãe foi buscá-la, vestiram-se a rigor e foram comer gelados. “Foi um dia muito especial para a nossa família”, relembram. .
ESCOLA
Crescer em Brighton está a ser tarefa fácil para Isabella. “Deve haver alguns problemas, mas neste momento não me ocorrem”, diz a mãe Liz a rir. O primeiro livro que a criança trouxe da escola era sobre dois pinguins gay. “Na Inglaterra isto é normal. É assim tudo muito fácil”, confirma. O único receio de Liz é que a discriminação – ou até o bullying – surjam quando Isabella for mais velha: “Mas até agora não aconteceu absolutamente nada.” .
Lisa e Monika sempre se envolveram na educação dos seus três filhos. O maior problema com que tiveram de lidar na escola foi também um dos mais bizarros: “Os pais das outras crianças chegaram ao pé de nós e informaram-nos que os filhos andavam a dizer que também queriam ter duas mães.” Nunca aconteceu um comentário menos agradável do que este. Reproduzido por: Lucas H.

Original disponível em:
http://www.ionline.pt/417519 


Reproduzido por: Lucas H.


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