segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Projetos de adoção tardia são criados para acabar com o preconceito (Reprodução)

20/10/16                     

Segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), do Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), existem cerca de 46 mil crianças e adolescentes vivendo em acolhimentos institucionais. Deste número, por volta de 5 mil estão aptas a serem adotadas.

Aproximadamente 36 mil pessoas estão cadastradas e interessadas em adotar uma criança ou adolescente. São aproximadamente 7 pessoas para cada criança e mesmo assim, elas não são adotadas e continuam a permanecer nas instituições.

O grande vilão é o perfil traçado pelos pretendentes à adoção. De acordo com o CNA, 68,27% das crianças prontas para adoção são negras ou pardas, entretanto 21,47% dos pretendentes só aceitam adotar crianças brancas.

Outro fator que inviabiliza a adoção está relacionado à idade. Mais da metade (56%) dos candidatos quer crianças no máximo até três anos de idade, porém apenas 3% das crianças estão nessa faixa etária.

E para inflar ainda mais esse quatro, 71% das crianças possuem irmãos e apenas 30% dos pretendentes se disponibiliza em adotar grupos de irmãos.

Projetos de sensibilização para adoções tardias
Projetos e iniciativas vem sendo realizadas em Prol da sensibilização de pessoas para que entendam a realidade brasileira no cenário das adoções e que as adoções tardias sejam cada vez mais freqüentes.

Adoção Tardia: surgiu pelas mãos de Simone Uriartt, designer formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e filha por adoção, que decidiu realizar uma produção audiovisual para seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) com foco em sensibilizar pretendentes à adoção sobre os benefícios afetivos da filiação adotiva, especialmente das crianças fora do padrão de adoção: as maiores de 3 anos.

Porém, ela decidiu continuar e desde 2014 mantém o canal no youtube com foco em vencer o tabu da adoção tardia: “O conceito do projeto estava baseado em três diretrizes: sinceridade e respeito: ao evitar explorar situações dramáticas que envolvem crianças abrigadas; otimismo e instrução: ao ressaltar os aspectos positivos da adoção; e sensibilização: ao incentivar o espectador a procurar mais informações sobre a adoção de crianças maiores”, explica.

Adoção Nunca é Tardia: O projeto é uma iniciativa dos alunos da Pós-Graduação Master of Business Administration (MBA) em Gestão de Projetos da Faculdade Pitágoras em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Trata-se de um TCC solidário que visa, também, se tornar um projeto maior. Os estudantes procuram chamar atenção das famílias e sociedade para as adoções necessárias das crianças com mais de 3 anos de idade e grupos de irmãos
Em um primeiro momento, será realizado um evento para 300 pessoas que apresente a sociedade o processo de adoção, seus trâmites legais, procurando sensibilizar os presentes aproximando-os das adoções tardias.

O Projeto tem o apoio do Grupo de Apoio à Adoção de Belo Horizonte (GAABH) e a atividade será realizada no dia 19 de novembro, ás 13h 19/11/2016 às 13:00, no Salão Nobre da Igreja Batista Getsemani (Rua Cassiano Campolina,360, Belo Horizonte – MG).

Adote um Pequeno Torcedor: É uma projeto que taz parte do campanhas como o documentário”Depois dos Sete – Uma reflexão sobre a adoção tardia”. Criada pelo time de futebol Sport Club do Recife, a inciativa retrata a realidade das crianças pernambucanas que têm acima de 7 anos e esperam por uma família.

Objetivo maior é chamar a atenção das para desconstruir a ideia de que adotar crianças com certa idade é impossível e complicado demais. “Acho que a maior dificuldade que as famílias tem de se envolver ou de aceitar a adoção de uma criança maior, se eu pudesse buscar uma palavra é ‘preconceito’”, afirma a psicóloga Carolina Albuquerque ao documentário produzido pelo time pernambucano.

Não existe criança perfeita
Os pais buscam crianças idealizadas, mas esquecem que filhos perfeitos não existem – sejam eles biológicos ou mesmo adotivos –.

A promotora de Justiça do Ministério Público de Pernambuco, Ana Maria da Fonte, demonstra como as pessoas esquecem da real intenção de se ter um filho: “Um rapaz que queria adotar idealizou que queria uma criança branca. Na audiência, olhei para ele e vi que se ele tivesse um filho natural não seria branco, porque ele não era branco”, conta.

Já para o Juiz da 2ª Vara da Infância e Juventude do Recife, Elio Braz, muitos pretendentes acreditam estar escolhendo um modelo numa loja e exemplifica: “Muitas vezes é assim: ‘já que eu vou escolher, então eu quero dessa forma. Já que a criança nasceu e existe… Não gostei dessa ou dessa; gostei daquela’”, descreve a atitude dos candidatos a adoção e alerta: ”Esse processo de escolha é proibido pela lei”. Além disso, o magistrado lembra: “Quando a criança nasce na maternidade, a pessoa olha para ela, esquece tudo aquilo que havia idealizado e aceita do jeito que ela vem”.

A juíza da infância e da juventude, Katy Braum, em entrevista ao Portal da Educativa explica quais são os mais indicados à adoção tardia: “Nos procuramos para as crianças maiores, pretendentes que tenham grande empatia, que consigam se colocar no lugar do outro e que tenham aquela capacidade de enxergar às vezes uma criança assustada, aparentemente agressiva o grande potencial que elas têm, mas que está escondido por trás do sofrimento do acolhimento”, descreve a juíza.

Ela finaliza dando atenção ao cuidado contra a idealização do filho adotivo: “Nós procuramos casais maduros e emocionalmente bem resolvidos, que tenham um grau pequeno de idealização; que aceitem pessoas como elas são: que não sejam perfeitas” Katy Braum, juíza da infância e da juventude do Rio Grande do Sul.


Reproduzido por: Lucas H.

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