quinta-feira, 13 de outubro de 2016

'Quero ser médica e ajudar os outros', diz menina que vive em abrigo no AC' (Reprodução)

12/10/2016

As lembranças de como chegou até o Educandário Santa Margarida, em Rio Branco, ainda são muito nebulosas para a menina de 10 anos que sonha em ser médica. De acordo com a direção, a pequena foi levada para o local há quatro meses após sofrer maus-tratos do pai. Ela fugiu de casa e foi encontrada vagando sozinha pelo Parque Chico Mendes, em Rio Branco.

A criança conta que sente falta dos três irmãos que, segundo o Educandário, permanecem sob a custódia do pai. A menina voltou a receber visitas dele, acompanhada por uma pessoa do abrigo, e deve ser reinserida ao lar, de acordo a diretora do local, Rita Batista. Quanto ao relacionamento com a mãe, Rita explica que a mulher vive nas ruas e quase não vê a filha.

"Não temos muitas informações sobre a mãe, mas nem mesmo a criança quer contato com ela. Apesar de sofrer maus-tratos, hoje a criança se relaciona bem com o pai. Uma equipe técnica acompanha as visitas que ocorrem toda quarta-feira. Os pais são orientados, recebem informações sobre a situação da criança, e são questionados se possuem interesse em ter a filha ou filho de volta", explica.

Quando perguntada se gostaria de voltar para casa e ficar perto da família, a criança sente dúvidas e no fim responde que prefere o abrigo e destaca que fez amigos e é bem tratada. No Dia das Crianças, data comemorada nesta quarta-feira (12), a pequena conta que gostaria de ganhar uma boneca que possui um nome complicado e veste roupa de joaninha.

"Quero essa boneca, eu vi na televisão. Meu sonho, o que quero é ser médica e ajudar os outros, até brinco com as outras crianças daqui", relata a menina.

Reinserção na família

A diretora Rita Batista explica que os pequenos devem ficar no local por até dois anos. Esse é o período que dura o processo onde verificam a possibilidade de alguém da família ficar com as crianças, caso os pais não possam. A busca da reinserção na família é importante, principalmente para as crianças mais velhas que enfrentam maior dificuldade em serem adotadas.

"A adoção é irrevogável. Então, se uma criança vai para adoção é porque ninguém da família tinha condições. Essa questão é muito difícil, pois podemos ficar com as crianças só até os 12 anos. Agora mesmo uma menina de 12 foi destituída e não há ninguém com interesse em adotá-la. A maioria das pessoas que estão na fila da adoção procuram crianças de até cinco anos. Alegam que a criança já possui a personalidade formada e que seria mais difícil inserir ela naquele ambiente", lamenta.

Dia das Crianças

A psicóloga Janete Andrade, que acompanha as crianças da instituição, explica que o mês de outubro é movimentado e as crianças recebem muitas visitas e presentes.
"A própria sociedade se encarrega de dar apoio a elas. É um mês muito feliz, as pessoas interagem, fazem brincadeiras. Hoje [segunda-feira, 10] um rapaz pagou os ingressos para todos irem ao cinema. Isso é bom para eles perceberem que nos importamos", afirma.

Adaptação

A menina faz parte de um grupo de ao menos 25 crianças, que possuem entre 0 e 12 anos, e foram levadas para o abrigo de Rio Branco. Duas delas moravam em Feijó, no interior do Acre. Porém, de acordo com a psicóloga, esse número varia diariamente. No local, elas brincam, aprendem artesanato, estudam, recebem visitas, fazem acompanhamento psicológico e passeios.

Apesar de tentarem proporcionar um bom ambiente para essas crianças, Janete diz que algumas não enxergam o local como um lar e sempre perguntam quando os pais vão buscá-las.

Esse é o caso de um menino de sete anos que foi levado ao local há 10 dias com o irmão gêmeo e a irmã mais velha. Os pais foram internados em uma comunidade terapêutica para tratar o vício em drogas e os parentes alegaram que não tinham condições de cuidar do trio.

"Gosto de brincar e pintar desenho de carros. Queria ganhar um videogame porque é muito legal. Sinto saudade da minha tia e de todo mundo", conta o menino enquanto colore as páginas do caderno.
Janete diz que a maioria das crianças é levada ao Educandário após sofrer negligências que são denunciadas ao Conselho Tutelar. A adaptação pode demorar e muitos chegam ao abrigo acreditando que são os culpados pelo abandono.

"A maioria das crianças no educandário possuem pais usuários de drogas. Às vezes alguns chegam machucados, outros desnutridos e alguns assustados. Isso tudo é um lugar novo e não estão acostumados com esse ambiente. Alguns choram muito, pedem para ir para casa, pedem os pais. Não mentimos para eles, pois não queremos criar expectativas e sempre mostramos que a culpa não é deles", finaliza.

Original disponível em: http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2016/10/quero-ser-medica-e-ajudar-os-outros-diz-menina-que-vive-em-abrigo-no-ac.html

Reproduzido por: Lucas H.

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