segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

O país onde apenas 0,5% das crianças em abrigos são adotadas (Reprodução)

22/12/2016

Os motivos que levam crianças à vida em abrigo são diversos e na maioria das vezes não incluem uma história bonita para contar. Abandono dos pais, descuido e até mesmo casos de violência já são um trauma, e podem ser só o começo de uma vida de decepções. Depois vem a espera, as mudanças de lares, a expectativa de encontrar uma família e a realidade de que talvez isso nunca aconteça. Na Austrália, entre 2014 e 2015, apenas 0,5% das crianças que esperam por adoção deixaram os abrigos, segundo o Ministro Assistente de Serviços Sociais, Zed Seselja.

Os números preocupam o governo australiano, que está buscando estratégias para estimular a adoção no país. A Austrália é um país com pouco mais de 23 milhões de habitantes , cerca de 11% da população do Brasil, no entanto com quantidade similar de crianças em orfanatos. De acordo com o Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA), 44 mil crianças e adolescentes brasileiros vivem em abrigos. Em 2015, o Brasil registrou 625 adoções, contra 209 no país da Oceania. Além de a procura por adoção ser insuficiente, os escolhidos nem sempre permanecem com a família adotiva.

A australiana Rebekah King, 37 anos, passou por mais de 20 casas até encontrar um novo lar e chegou a ser chamada de “a garota do governo” na escola. As trocas aconteciam sem ela entender o porquê, sem aviso, e às vezes para famílias que a tratavam com violência. Ao todo foram 10 anos em poder do Estado. Recentemente, Rebekah fez uma petição online para a criação de uma instituição que escute as necessidades das crianças e investigue abusos nos processo de adoção. Ela já conseguiu mais de 70 mil assinaturas. Ela também faz campanhas em sua Fanpage “The Little Girl That Nobody Wanted”.

A duração de todos os trâmites para adotar na Austrália é de em média 5.9 anos, segundo a organização infantil Barnados, embora existam casos menos demorados. Já no Brasil a espera é de cerca de dois anos e o maior desafio é encontrar o perfil de criança que a família está procurando: geralmente bebês com menos de um ano de idade e de pele clara. Já na Austrália, segundo Seselja, faltam interessados e os processos complicados em tribunais tornam a busca ainda menos atraente. “Existe uma percepção negativa sobre adoção”, afirmou.

Como funcionaNo Brasil, o processo é feito via Cadastro Nacional de Adoção, sistema criado em 2008 para facilitar o encontro entre pais adotivos e perfis de crianças em abrigos. Os requerentes precisam ter mais de 18 anos e 16 anos a mais que a criança, apresentar documentos de identificação, além de comprovante de renda, de sanidade mental e antecedentes criminais. Depois, passam por orientação psicossocial e jurídica, avaliações e visitas domiciliares. Se forem aprovados, são incluídos no Cadastro Nacional de Adoção por dois anos e notificados quando surge uma criança com o perfil desejado. Então, começa a convivência de curtos períodos, que passa para guarda provisória e, por último, para definitiva, concedida pelo juiz.

Já na Austrália, as regras são definidas por Estado. No mais populoso, Nova Gales do Sul, existem duas opções de programas de adoção: de crianças entregues pelos pais voluntariamente e daquelas que foram removidas das famílias por estarem em situações de abuso. O primeiro tem custo de mais de AUD 3 mil (aproximadamente R$ 7,5 mil) e exige aprovação dos pais biológicos. Já o segundo programa não tem custo. Ambos incluem seminários, avaliações, apresentação de atestado de saúde, de histórico criminal e de comprovação de renda, além de entrevistas, visitas domiciliares e aprovação de um juiz.


Reproduzido por: Lucas H.


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