segunda-feira, 3 de abril de 2017

Doria corta cursos de formação cultural para 4 mil alunos da periferia (Reprodução)

Por Guilherme Balza

Os cursos sempre aconteceram em equipamentos das secretarias da Cultura e da Educação. Neste ano, as inscrições só foram abertas em 45 unidades da Cultura, como teatros, bibliotecas e centros culturais. Os 46 CEUs, todos na periferia, ficaram de fora.


Eram 8.190 alunos em 2016 e neste ano vão ser 4.160. O número de artistas-educadores caiu de 336 para 130.

Nas secretarias dos CEUs não há informações sobre o retorno das aulas e nem se os programas vão ser mantidos, como conta Meire Gomes, mãe de uma aluna de seis anos do PIÁ.

"Eles falam que é uma questão da gestão atual e nunca dizem nada sobre data. Quando passamos em frente à escola minha filha sempre fala que está no horário do PIÁ, que ela sente falta das professoras, das atividades. Ela se desenvolveu muito porque ela fazia as aulas de história, de teatro, então ela conversava pouco e ficou bem desenvolvida. Está fazendo falta para ela. Ela está começando a ficar mais contida de novo."

Em entrevista à CBN, o secretário da Cultura, André Sturm, disse que os programas seriam mantidos e aumentariam de tamanho, mas omitiu a suspensão das aulas nos CEUs.

Já o secretário de Educação, Alexandre Schneider, diz que não há orçamento suficiente para os programas.

"O orçamento da área de cultura dos CEUs saiu da prefeitura com um valor R$ 10 milhões de reais a menos. Esses programas custam R$ 4 milhões. O que a gente está fazendo é trabalhar por dentro do orçamento para ver como a gente ganha eficiência no gasto para trazer esses programas de volta. Sem dinheiro, a gente não consegue fazer. E assim que a gente conseguir retomar os programas a gente vai avisar a todos."

Apesar das declarações do secretário, o orçamento aprovado na Câmara prevê mais de R$ 14 milhões para os dois programas, 10% a menos que no ano passado.

O que impede a continuidade do PIÁ e do Vocacional é o congelamento de R$ 4,5 milhões da educação destinados para os dois programas por ordem da equipe econômica de Doria.

Além disso, todos os 336 educadores foram demitidos na atual gestão. Eles tinham com a prefeitura um contrato bianual até o final deste ano. A ideia era dar continuidade às turmas e antecipar para fevereiro o início das aulas, que costumam começar só em maio. Mas a Secretaria da Cultura entendeu que os contratos estavam irregulares.

Um dos dispensados pelos cortes foi o ator Hercules Morais, que foi aluno do Vocacional nas primeiras turmas, em 2001. Onze anos depois, virou professor e coordenador do programa.

"Uma coisa é uma política pública que incentiva trabalhos processuais e outra coisa é uma política pública que incentiva o evento. Se não fosse o Vocacional eu não seria artista, nem professor hoje. Eu nunca tive dinheiro para pagar teatro. Hoje o que está se apontando é que se você não tiver dinheiro para pagar mensalidade de um curso de artes, você não vai fazer."

A musicista Ana Ítala fez o Vocacional dos 15 aos 25 anos. Filha adotiva, em um dos trabalhos do curso ela fez uma entrevista com a mãe biológica, com quem nunca havia conversado, e depois fez uma cena sobre essa relação.

"Depois da entrevista nós nos aproximamos mais. Eu pude perceber que ela sofria bastante e ainda sofre com a questão da adoção. É uma experiência humana. Eu sou uma pessoa de origem pobre. Nunca tive condições de pagar uma aula de teatro. E eu realmente fiquei muito triste em saber que o Vocacional foi tirado [dos CEUs]."


Reproduzido por: Lucas H.


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