segunda-feira, 5 de junho de 2017

Adoção: da espera ao encontro do filho do coração (Reprodução)

02/06/2017

O desejo de adotar um filho sempre esteve presente nos projetos do casal Cláudia Cristina Mineu e Arlênio Mineu. Ainda durante o noivado, eles faziam planos para o casamento e a criação de filhos biológicos e adotivos. “Planejamos uma família grande, com quatro filhos”, conta Arlênio.

Desde adolescente, Cláudia já desejava ter filhos adotivos. “Na minha família não há nenhum caso de adoção. Não sei exatamente de onde surgiu esse desejo, mas encontrei um parceiro que compartilhasse esse sonho comigo”, revela Cláudia.

O casal está há 20 anos juntos, e os filhos biológicos acabaram não vindo. “Procuramos médicos especialistas em reprodução humana e não foi diagnosticado nenhum problema aparente relacionado à infertilidade. Optamos por não fazer nenhum tratamento e já partirmos para a adoção, algo que já era desejado por nós”, compartilha Cláudia.

Procuraram a Defensoria Pública, em março de 2016, a fim de se inscrever no processo de habilitação para adoção. Em abril, foram chamados a participar do curso de preparação psicossocial e jurídica para adoção promovido pela equipe da Seção de Colocação em Família Substituta da Vara da Infância e da Juventude do DF – SEFAM/VIJ-DF.

Devido a viagens planejadas para o período, o casal começou o curso de habilitação em setembro. “O curso de preparação foi um somatório muito grande de experiências. Os psicólogos pediram para a gente sair do mundo dos sonhos e nos mostraram a realidade sobre adoção. Que nosso filho pode ser aquela criança no colo da moradora de rua que avistamos no semáforo e fechamos o vidro do carro”, acrescenta Arlênio.

O casal conta ainda que, no decorrer dos quatro encontros do curso, as instrutoras falam da realidade das crianças que estão institucionalizadas. “São crianças que sofreram abuso, violência, e os pais são usuários de drogas”, relatam.

Além do chamado para a vida real, a equipe da VIJ-DF orienta sobre o processo judicial da adoção, no qual todos os pré-requisitos devem ser respeitados. “Quando estamos fora do processo, reclamamos muito e pensamos que é muito burocrático. Mas, quando fazemos parte, entendemos o porquê de seguir todos os trâmites”, diz Cláudia.

Outro fator trabalhado no curso é a preparação psicológica dos pais para receber a criança e estabelecer vínculos. “Sabemos que o processo de formação de vínculos com a criança não será como nas novelas. Isso levará um tempo, tanto para a criança como para nós”, pondera Cláudia.

Eles manifestam gratidão pelos profissionais que trabalham com adoção na VIJ. “Tudo está correndo muito bem. A equipe da Vara foi toda muito profissional. Hoje, quando alguém reclama sobre a demora ou burocracia da adoção, nós defendemos a VIJ”, afirmam.

Assim que concluíram a habilitação, fizeram um vídeo para contar aos amigos e familiares sobre a adoção. “Todos se emocionaram muito. A espera pela adoção contagiou a família toda. Sinto-me como se estivesse grávida biologicamente, e todos esperando o nascimento do meu filho”, confidencia Cláudia.

Os futuros pais contam que o tema gera comoção e empatia entre as pessoas. “Muitos têm se aproximado da gente para contar que são adotados ou que têm filhos adotivos”, acrescenta Arlênio.
A espera do casal pela adoção se tornou coletiva. “Percebemos que a adoção uniu a família e nossa ansiedade passou para todos. Um filho que está chegando para a gente, mas vai modificar a vida de todos à nossa volta”, revela Arlênio.

Perfil escolhido
Quanto à escolha do perfil do filho, o casal não fez muitas exigências. “Nosso perfil é bem elástico, com possibilidade de dois irmãos, com idade de 0 a 8 anos, sem restrições quanto ao sexo e à cor de pele”, descreve Cláudia.

Com o perfil mais abrangente, a expectativa de Cláudia e Arlênio é que a adoção se concretize ainda este ano. “A partir de agora, podemos a qualquer momento receber uma ligação da VIJ para dizer que nossos filhos chegaram”, contam.

Enquanto o telefone não toca com a tão sonhada ligação, o casal administra a ansiedade se preparando. “Enxugamos as dívidas, saímos do aluguel e compramos um imóvel próprio, com quartos para as crianças. Estamos nos preparando para a chegada dos nossos filhos”, compartilha a futura mãe.

A nova moradia possui dois quartos à espera dos filhos. “Não decoramos ainda porque não sabemos quantas crianças virão nem a idade e o sexo. Mas tudo que vemos sentimos vontade de comprar para eles”, confessa Cláudia.

A um passo de ver a família completa, o casal diz que, apesar dos medos e inseguranças, não há dúvida nenhuma em relação à adoção. “Sinto-me como se estivesse gestante do meu primeiro filho, insegura por nunca ter passado por isso antes. Mas vamos aprender e crescer juntos com essas crianças”, confessa.

Pensar que existem crianças com medo de não serem adotadas e que merecem uma oportunidade encorajou o casal a tomar a decisão. “Acreditar na vida, no encontro entre as pessoas, no recomeço e nas oportunidades é muito mais forte do que o medo de adotar”, enfatiza Arlênio.

O casal pretende falar com naturalidade e transparência sobre a adoção com os filhos. “Iremos seguir as orientações da equipe de psicólogos da VIJ, pois queremos que cresçam com a identidade deles e conheçam suas histórias de vida. Assim serão mais resolvidos e mais bem-sucedidos na vida”, garante Arlênio. Cláudia acrescenta ainda que não quer se apropriar da história deles, mas construir uma nova história juntos.

A linda história de adoção de João Felipe

O nascer de um filho não depende apenas da gestação e do parto. Para se tornar pai ou mãe, é preciso, acima de tudo, abrir o coração. A história de adoção de João Felipe prova que os laços do coração são tão fortes quanto os biológicos.

Mas antes de conhecer a história de adoção de João Felipe, é preciso desvendar uma história de amor que nasceu além-mar. Em 2004, em um programa de bate-papo pela internet, a brasileira Wanda Maciel e o português Antônio Marques deram início a um lindo romance.

Três anos se passaram e finalmente o casal se encontrou pela primeira vez. “Estava com férias marcadas e tinha feito orçamento para três lugares aqui no Brasil. Foi quando Antônio me convidou para ir a Portugal e finalmente nos conhecermos pessoalmente”, revela Wanda.

A conexão entre o casal foi intensa, e o primeiro encontro em terras portuguesas se transformou em noivado. Em abril de 2008, trocaram alianças. “Casamo-nos no Brasil em uma cerimônia linda, com amigos e familiares presentes”, contou Wanda.

Antes de conhecer Antônio, Wanda guardou o sonho da maternidade para se dedicar a outros projetos de vida. “Quando me casei com Antônio, ele reacendeu em mim a vontade de ser mãe”, confessa.
Com a idade avançada para gerar um filho, uma gravidez natural ficaria difícil. Com isso, o casal procurou profissionais na área de reprodução humana, que alertaram sobre a baixa eficácia dos tratamentos e o alto risco para a saúde. “Tendo em vista o alto custo pessoal e financeiro dos procedimentos de fertilização, decidimos pela adoção”, revela Wanda.

Certos de que os filhos viriam pela adoção, o casal procurou a Defensoria Pública em 2009 para se inscrever no processo que habilita para adoção. Em 2010, fizeram o curso de preparação na VIJ.
Com a participação no curso de habilitação, o casal se sentiu à vontade para receber uma criança com as características desejadas. O perfil pretendido por eles foi uma criança de 0 a 4 anos, sexo feminino ou masculino, com a possibilidade de irmãos e cor de pele morena clara.

Finalizado o curso, o casal se habilitou e entrou no Cadastro Nacional de Adoção – CNA. Após quatro anos de espera, receberam uma ligação da equipe de adoção da VIJ, dizendo que havia um menino de 1 ano e 1 mês, chamado João Felipe, pronto para ser adotado.

A espera de Wanda e Antônio pela adoção movimentou toda a família e amigos, que organizaram três chás de fraldas para os futuros pais. “Todos os nossos amigos e familiares ficaram empolgados com a nossa adoção. Nosso filho foi muito aguardado por todos”, descreve o casal.

A chegada de João Felipe

Finalmente a angustiante espera chegou ao fim, no dia 4/11/2013, quando foram até a instituição de acolhimento Lar de São José conhecer o filho. “A emoção foi muito grande, sendo difícil traduzir em palavras. Avistei a cuidadora pegando uma criança no colo e na mesma hora senti que era o meu filho. Quando eu olhei nos olhos do João Felipe, me arrepiei toda”, confidencia Wanda.   

Na ocasião, a assistente social falou para Wanda chamar João Felipe. “Pedi três vezes para que viesse ao meu colo, mas ele não veio”, conta a mãe. Então o pai resolveu fazer a tentativa. “Filho, anda cá”, falou Antônio com seu sotaque de português. Para surpresa de todos, o menino se jogou nos braços do pai e não quis mais sair.

Nos dias seguintes ao primeiro encontro, os pais continuaram visitando o filho na entidade. O vínculo criado entre eles foi tão forte que, quando o menino avistava os pais, pulava em seus braços e pedia para ir embora com eles.

Assim, ao final de 15 dias de convivência, João Felipe foi morar em seu novo lar. “Quando chegou e viu seu quarto, ficou eufórico; corria pela casa toda. Foi muita emoção ter um bebê em casa”, compartilha o pai.

Sobre a experiência de ter um filho, Wanda acredita que a maternidade é a tarefa mais árdua e prazerosa da vida. “É um amor que entra na gente de uma forma tão surpreendente que só lembro que João Felipe não é meu filho biológico quando falo sobre o assunto; caso contrário, isso nunca me ocorre”, revela Wanda.

Os pais acreditam que a formação do vínculo com a criança vem com o tempo de convivência, mas um acontecimento marcou muito a concretização desse laço. Certo dia, Wanda e o filho estavam brincando na frente da casa de um amigo de João. Foi quando eles se desentenderam por conta de um brinquedo, e o amigo disse para João Felipe: “Você nem morou na barriga da sua mãe”.

Nesse momento, Wanda ficou sem reação, mas, para sua surpresa, João Felipe imediatamente respondeu ao amigo: “É, não morei na barriga da minha mãe: morei nos braços, na cabeça, nas pernas. Eu morei na minha mãe inteira”, respondeu a criança ao amigo.   

Com apenas 2 anos de idade quando o fato ocorreu, a mãe não sabe como o filho conseguiu ser tão preciso na resposta. “Esse foi o momento exato em que entendi o significado desse amor. Chorei muito e senti um imenso orgulho do meu filho”, relembra.

Desde o momento que recebeu o filho no lar, o casal conversou com ele sobre a sua adoção. “Falamos que ele foi concebido por outra senhora, mas ela não pôde ficar com ele. E isso aconteceu porque ele já tinha que ser nosso filho”, contam.

Sobre a adoção e o tempo de espera, os pais de João Felipe garantem: “Temos certeza que ele era nosso antes de nascer. Já estávamos conectados a ele, por isso a espera ficou mais amena, e tudo aconteceu no seu tempo”.

A história da adoção de João Felipe foi tão positiva que, desde 2014, Wanda e Antônio estão na fila para adotar mais um filho. Desta vez, querem uma menina de até 4 anos. “Perguntei para João se ele desejava um irmão, e ele disse que queria uma irmã para ser seu herói e cavaleiro”, conta Wanda.
Enquanto essa irmã não chega, João vai sonhando com a possibilidade de tê-la para brincar, mas também para dividir a grandeza e a felicidade de ter uma família que ama, acolhe e educa.

Original disponível em: http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2017/junho/adocao-da-espera-ao-encontro-do-filho-do-coracao

Reproduzido por: Lucas H.


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