quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Uma história de amor e superação em quadrinhos (Reprodução)

21.08.17

Atualmente, no Brasil, o número de crianças registradas no Cadastro Nacional de Adoção chega a 7.922. Já na fila de espera, o número de pais que aguarda pelo momento de proporcionar um lar digno a elas é de 40.703. Apesar da discrepância, as restrições que algumas famílias impõem acabam atravancando o processo, o que impede que novas crianças tenham um lar.

Na contramão disso, o casal Márcia Ferraz Lazzarini, de 51 anos, e Wanderley Lazzarini, 49, de Araçatuba, dispuseram-se a adotar uma criança considerada de risco, ou seja, que pudesse ter a guarda requerida por um dos pais biológicos ou por ser portadora de algum tipo de deficiência. Envolvidos num processo que durou pouco mais de um ano, eles foram agraciados com o pequeno Ian Ferraz Lazzarini, que fará 5 anos neste domingo. "Eu já tinha 24 anos de casada, havia perdido quatro filhos em gestações e a gente decidiu pela adoção no dia das mães de 2011", conta Márcia, que é auxiliar administrativa e dona de um buffet infantil.

Márcia diz que, quando surgiu o interesse na adoção, tinha preferência por criança recém-nascida e menina. Mas, após uma série de palestras e cursos de adoção, limitou a restrição a crianças que haviam acabado de nascer. Depois de um tempo de espera, veio, então, Ian. Em novembro de 2012, o casal conseguiu a guarda provisória de Ian. Sete meses depois, veio a guarda definitiva. A história do casal com a criança levou à ideia de criação de um gibi, contando todo o processo pelo qual o menino entrou na vida de Márcia e Wanderley.

EXPERIÊNCIA

Logo no primeiro dia da adoção, Márcia suspeitou que a criança teria deficiência auditiva. Após descobrir a dificuldade do menino, ela procurou ajuda de uma prima, que é fonoaudióloga, e, em poucos meses, ele já começou a passar por tratamento especializado no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, o "Centrinho", em Bauru. "Nós sabíamos que ele poderia ter problemas cognitivos, de audição, comportamental, hiperatividade, coisas que ele tem, mas não sabíamos, e isso não nos impediu de dar nosso amor a ele."

Apesar da nova rotina, Márcia sentiu uma ligação instantânea com o bebê. "Parecia que eu estava esperando por ele e ele esperando por mim", afirma, emocionada. O esposo, que é mecânico auxiliar, teve a mesma troca de sentimento.

Após terem a guarda provisória do filho há apenas dois meses, o casal teve o primeiro momento de grande dificuldade. Foi quando Ian sofreu uma parada respiratória e, depois, meningite. As dificuldades foram atribuídas aos 60 dias em que ele passou na UTI, devido o nascimento prematuro de sete meses. Superados esses desafios, hoje, a mãe diz: "Ele é uma criança muito dócil e carinhosa".

ROTINA

Atualmente, a rotina da família é intensa. Todas as manhãs, Ian vai para a escola. A própria mãe incentivou as professoras que cuidam de seu filho a fazer um curso de capacitação para cuidar de crianças com dificuldades auditivas.

Ian também passa por sessões com uma fonoaudióloga e de tratamento cognitivo com especialistas do Hospital Ritinha Prates, além de, quatro vezes por semana, ter aulas com uma pedagoga, a fim de aprimorar o conhecimento e aprendizado de forma lúdica.

'NÍVER'

Todos os anos, no aniversário do pequeno Ian, Márcia realiza uma festa temática para familiares e amigos. Como, neste ano, não poderia ser diferente, ela e o marido resolveram inovar e contar a história de superação deles por meio de um gibi. "O gibi nasceu da ideia de mostrar para as pessoas o quanto é importante a audição. Para um deficiente auditivo, todo som é música", explica. O implante coclear feito nos dois ouvidos de Ian também foi um incentivo para a criação da história em quadrinhos.

Para esse processo, Márcia contou com o apoio da publicitária Cintia Brasileiro, que, após ter contato com a história, viu a importância do caso e sugeriu que fosse feito algo lúdico e interativo para crianças da faixa etária de Ian. Cintia conta que Márcia "queria compartilhar a história de forma que adulto ou criança pudessem ler". O processo originou na criação do gibi "A Turma do Ian".

"Fiquei muito apaixonada por essa história. Ele (Ian) tem uma rotina de processo individual, uma luta que é dele", conta a idealizadora do material, que será distribuído em escolas públicas e particulares. Todo o processo de criação levou três meses para ser concluído. "Ela queria deixar claro que tudo é possível", finaliza Cintia. Para a confecção da revistinha, o casal contou com doações.

IGUALDADE

No âmbito familiar, o acolhimento ao garoto foi intenso e caloroso. Hoje, Márcia e Wanderley vêm a adoção de Ian como algo divino. "A chegada dele foi um encontro com o divino. Para nós, não tem diferença nenhuma", afirma. "Ninguém está preparado para adotar um ou ter um filho especial. Mas é igual a você fosse gerar seu filho", compara Márcia.

Original disponível em: http://www.folhadaregiao.com.br/ara%C3%A7atuba/uma-hist%C3%B3ria-de-amor-e-supera%C3%A7%C3%A3o-em-quadrinhos-1.356966

Reproduzido por: Lucas H.

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