segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Projeto que acolhe crianças em situação de risco será ampliado em Minas (Reprodução)

09/09/2017

Pedro* tem apenas oito meses. Ele só que saber de colo, mamadeira e berço. Cibele sabe disso e não mede esforços para cuidar do bebê. Além de dar toda a atenção necessária, ela sempre arranca sorrisos do garotinho ao tocar o antigo piano da casa, que fica no bairro Castelo, na região da Pampulha, na capital mineira.

Essa história poderia ser a de um lar comum. Mas Pedro é a terceira criança acolhida com muito afeto na residência da doméstica Cibele Guimarães Gentil. Ela, o marido e as três filhas adolescentes participam do projeto Família Acolhedora, formado por pessoas que recebem, temporariamente, crianças e adolescentes em situação de risco.

Presente em Belo Horizonte e mais 103 municípios mineiros, a rede de proteção será expandida. A Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese) irá lançar um plano de regionalização do projeto em outras cidades do interior. O anúncio oficial com todos os detalhes deve ocorrer no próximo mês.

Em BH

Criado em 2009 na capital mineira, o programa conta com 14 famílias participantes. São duas modalidades, desenvolvidas em parceira com a Arquidiocese de Belo Horizonte. O objetivo é que esses meninos e meninas tenham um lar seguro enquanto uma equipe de assistentes sociais e psicólogos tenta resolver os casos de abandono, negligência e outros abusos cometidos pelos pais biológicos.

Na primeira modalidade, os grupos participantes não podem ter pretensão de adotar. Nesses casos, explica Valéria Silva Cardoso, gerente do Serviço de Apoio à Reintegração Familiar, da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social, as famílias podem ficar com os acolhidos por até dois anos. Tão logo os parentes biológicos se reestruturem, as crianças retornam para o convívio com o pai e a mãe. “A gente acolhe por amor e os pequenos vão embora por amor também. Vão embora porque aquele problema foi resolvido”, afirma Cibele Gentil.

Já em uma outra modalidade, de longa duração, a guarda temporária pode ocorrer até que o jovem complete 18 anos. Nesse caso, a adoção é permitida desde que a Justiça determine

Aposentada espera resposta para adoção

Aos 71 anos, a aposentada Lourdes da Conceição Lopes foi a primeira a optar pela modalidade de longa duração do Família Acolhedora. Mãe de cinco filhos, ela conheceu o projeto por acaso, após ouvir uma notícia no rádio em 2011. Um ano depois surgiu o Fábio*. O menino, que nasceu prematuro, foi rejeitado pelos pais biológicos. Na época, a expectativa de vida dele era muito pequena. Hoje, aos 5 anos, esbanja sorrisos, mesmo diante das limitações físicas. O garoto não anda nem fala.

A fé de Lourdes, porém, a faz enxergar tudo diferente. Ela afirma saber que Fábio irá melhorar e que é questão de tempo para que as sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e as várias terapias ajudem na evolução do pequeno.

Agora, a aposentada sonha em conseguir a guarda definitiva do menor, que ela já considera como um filho. Um processo está em andamento na Justiça.

Zelo

A dedicação é tamanha. Além de se preocupar com a alimentação especial de Fábio, a idosa se vira como pode na hora de utilizar o transporte público com o menino cadeirante. Viúva, Lourdes conta com a ajuda dos filhos, que são técnicos em enfermagem e moram com ela no bairro Tirol, no Barreiro. “Vou colocar meu sobrenome nele. Se a saúde permitir, depois de adotá-lo vou continuar acolhendo outras crianças”, revela.

Candidatos ao programa devem ter bastante preparo

Participar de um projeto como o Famílias Acolhedoras requer bastante preparo. Segundo a psicóloga e psicanalista Marta Maria Angélica Pereira, o pleiteante deve entender que, mesmo que seja temporário, a criança precisa ser vista como um membro da família. “É preciso desejar ajudar o outro, ter amor. O interessado deve se dedicar ao processo de capacitação para conhecer o acolhimento e aprender a lidar com a situação. Em algum momento a criança será entregue, seja para a família original ou para a adotiva”, frisa. 

Para o acolhido, a guarda temporária é uma alternativa positiva, pois ele recebe amor, assistência à saúde, aprende sentimentos de pertencimento familiar e de comunidade. “É uma referência de mundo que ela passa a ter”, diz a especialista.<EM>

Missão

À espera de duas crianças para serem acolhidas, a contadora Eva Pereira de Souza, de 35 anos, garante estar em condições para cumprir a missão. Amor e carinho ela afirma que não irão faltar aos ‘filhos temporários’. “Psicologicamente, é uma grande ansiedade, mas me sinto preparada”, diz a contadora, que mora com a mãe, Maria de Lourdes Pereira de Souza, de 75. 

Eva conheceu o Famílias Acolhedoras há uma década. Na época, estudava e não tinha condições de cuidar de uma criança. Em janeiro deste ano, com emprego fixo e morando num apartamento maior, no bairro São Francisco, na Pampulha, percebeu que era o momento de participar do programa. 

“Já quis adotar, mas pensei que poderia fazer algo maior, que é o acolhimento. Nessa fase, a criança está triste, porque se separou dos pais, e essa rotina de casa é muito boa para ela”.

Como participar

Para participar do projeto, é necessário um laudo médico que ateste as condições físicas e mentais para o cuidado infantil. O processo de espera varia e pode demorar de semanas a meses. Psicólogos e assistentes sociais acompanham todo o processo. A família passará por conversas, entrevistas e visitas residenciais. É importante que todos os membros da casa queiram acolher. Se um não concorda ou demonstra insatisfação, o pedido é reprovado.

O processo é diferente da adoção. O acolhedor tem a guarda temporária da criança. Isso significa assumir todas as responsabilidades de cuidado e afeto com quem é acolhido.

Para saber mais sobre o projeto Família Acolhedoras, basta entrar em contato pelo telefone (31) 3422-4736 ou pelo e-mail familiasacolhedoras@gmail.com.
*Nomes fictícios

Original disponível em: http://hojeemdia.com.br/horizontes/projeto-que-acolhe-crian%C3%A7as-em-situa%C3%A7%C3%A3o-de-risco-ser%C3%A1-ampliado-em-minas-1.558002

Reproduzido por: Lucas H.

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